O lado obscuro dos algoritmos: como as redes sociais estão reprogramando nossos desejos

A questão é: estamos usando as redes sociais, ou são elas que estão nos usando?

Por Redação Jornal Surreal

Você já parou para pensar por que, depois de pesquisar um tênis uma única vez, seu feed é inundado por anúncios de sapatos por semanas? Ou por que, após curtir um post sobre viagens, começa a sonhar com uma escapada para Bali? Por trás dessas “coincidências” está um poder invisível e cada vez mais onipresente: os algoritmos das redes sociais. Eles não só sugerem os conteúdos, mas também influenciam as nossas escolhas, desejos e até nossa visão de mundo. Mas até que ponto estamos conscientes disso? E quais são os riscos de deixar que as máquinas decidam o que queremos?

O funcionamento dos algoritmos: uma máquina de previsões

Tudo começa com a coleta massiva de dados. Cada like, comentário, tempo de visualização e até o movimento do cursor são registrados pelas plataformas. Essas informações alimentam sistemas de inteligência artificial que identificam padrões de comportamento e preveem o que nos mantém engajados. Com base nesses dados, os algoritmos criam bolhas de conteúdo sob medida, mostrando apenas o que acreditam que nos agradará. Esse processo, conhecido como “filtro bolha”, nos mantém presos a um ciclo de conteúdos que reforçam nossas crenças e preferências, limitando nossa exposição a novas ideias.

Um estudo da MIT Technology Review revelou que 60% das compras online são impulsivas, influenciadas por anúncios direcionados. Isso não acontece por acaso: os algoritmos são projetados para criar necessidades, muitas vezes antes mesmo que percebamos que as temos. Eles não só sugerem produtos, mas também moldam nossos desejos, desde o que vestimos até para onde viajamos.

A reprogramação dos desejos: quando as máquinas decidem por nós

Os algoritmos não se limitam a influenciar nossas compras. Eles também afetam nossa visão política e social. Ao mostrar apenas conteúdos que reforçam nossas crenças, eles amplificam polarizações e criam câmaras de eco, onde opiniões divergentes raramente chegam. Durante eleições e crises, como nas eleições de 2016 nos EUA e no Brexit, os algoritmos foram acusados de amplificar desinformação, criando um terreno extremamente fértil para as fake news.

Além disso, a exposição constante a corpos “perfeitos”, viagens luxuosas e estilos de vida inatingíveis pode gerar frustração e ansiedade. Um fenômeno conhecido como “efeito Instagram” mostra que 70% dos millennials admitem escolher destinos de viagem com base no que veem na plataforma. Mas o que acontece quando esses desejos são inalcançáveis? A comparação tóxica pode levar a sentimentos de inadequação e até depressão, especialmente entre os jovens.

O impacto na saúde mental: o preço da atenção

Os algoritmos são projetados para maximizar o tempo de tela, criando um ciclo vicioso de rolagem infinita. Em média, passamos 2,5 horas por dia em redes sociais, o que soma mais de 5 anos de vida ao longo de 70 anos. Esse vício digital não só consome nosso tempo, mas também afeta nossa saúde mental. Psicólogos alertam para o aumento de casos de ansiedade e depressão ligados ao uso excessivo de redes sociais.

Tristan Harris, ex-engenheiro do Google e crítico da tecnologia, afirma que “os algoritmos não são neutros. Eles são projetados para capturar nossa atenção, muitas vezes à custa de nosso bem-estar.” Shoshana Zuboff, autora de The Age of Surveillance Capitalism, vai além: “Estamos vivendo em um mundo onde nossos comportamentos são previstos e manipulados para gerar lucro.”

Casos reais: quando os algoritmos dão errado

Alguns exemplos mostram o lado mais sombrio desses sistemas. O YouTube, por exemplo, já foi criticado por recomendar vídeos cada vez mais radicais, levando usuários a espirais de extremismo. Em 2019, uma investigação do The Wall Street Journal revelou que a plataforma sugeria conteúdos conspiratórios e violentos mesmo para usuários que buscavam informações neutras.

Outro caso preocupante é o direcionamento de anúncios de produtos nocivos, como cigarros eletrônicos, para adolescentes. Plataformas como Instagram e TikTok foram acusadas de explorar a vulnerabilidade de jovens, expondo-os a conteúdos que podem prejudicar sua saúde física e mental.

Como se proteger: retomando o controle

Diante desse cenário, como podemos nos proteger? O primeiro passo é a consciência digital. Entender como os algoritmos funcionam nos permite usá-los de forma crítica, sem nos tornarmos reféns de suas manipulações. Estabelecer limites de uso, como horários específicos para checar redes sociais, também ajuda a evitar a rolagem automática e o vício.

Outra estratégia é diversificar as fontes de informação. Buscar conteúdos em diferentes plataformas e perspectivas nos ajuda a escapar da câmara de eco e a formar opiniões mais equilibradas. Ferramentas de privacidade, como extensões de navegador que limitam o rastreamento de dados, também são aliadas na proteção contra a coleta excessiva de informações.

Quem controla quem?

Os algoritmos estão aqui para ficar, e sua influência só tende a crescer. A questão é: estamos usando as redes sociais, ou são elas que estão nos usando? Enquanto empresas lucram bilhões com nossos dados, cabe a nós decidir até onde queremos que essa reprogramação de desejos vá. A tecnologia pode ser uma ferramenta incrível, mas, sem controle, pode se tornar uma prisão invisível.

Curiosidades sobre algoritmos

  • O algoritmo do TikTok consegue prever seus interesses em menos de uma hora de uso.
  • Em média, passamos 2,5 horas por dia em redes sociais, somando mais de 5 anos de vida ao longo de 70 anos.
  • 70% dos millennials admitem que escolhem destinos de viagem com base no que veem no Instagram.

Imagem: Pexels

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